O processo criativo de produção de cerveja artesanal para mim não tem um caminho simples, bem traçado e delineado. Tenho os meus checkpoints que me ajudam a construir a receita que quero produzir, mas cada cerveja é uma cerveja e até ao resultado final o caminho pode ser muito experimental e muitas vezes ter de voltar atrás e repetir de novo. É um processo em bastante transformação, pois felizmente a cerveja é um produto irreverente e cada vez mais existem exemplos de cervejas excêntricas. Isto leva a que tanto as matérias primas usadas bem como as técnicas estejam em constante evolução, por isso o céu é o limite.
Mas o caminho faz-se caminhando e começo por buscar inspirações do mercado e marcas que admiro (processo árduo de provar cervejas diferentes!), e também recolher feedback junto de outros cervejeiros e consumidores. Este passo ajuda a perceber novas tendências e a ganhar um pouco de rumo para o que virá a ser feito. Pode existir também um alinhamento de equipa para balizar o que é pretendido ou chegar ao objetivo de cada cerveja (ex: para uma ocasião especial, para uma época especifica, com um ingrediente X, etc.). A seguir existe para mim um fator mais pessoal, onde busco no meu baú, ideias de cervejas que gostava de experimentar, técnicas novas ou ingredientes diferentes e também receitas que já produzi.
Com estes inputs começo a pensar no estilo, ingredientes e técnicas que vou usar, para assim começar a desenhar a receita. Mas para chegar à receita final ainda falta desbravar muito terreno. Neste passo a experiência ajuda. Se já produzi algo semelhante, vejo o correu bem e pode ser adaptado, caso não tenha produzido nada parecido, recorro à comunidade cervejeira para buscar conhecimento de quem possa já ter feito e assim tentar minimizar os erros. Mas aqui entra a palavra chave, testar! Não existe uma cerveja perfeita, pelo menos eu acho sempre que podemos melhorar e essa busca também me move a procurar fazer sempre melhor em cada lote e buscar a satisfação de quem bebe a nossa cerveja. Se a cerveja escolhida ou a técnica forem muito diferentes de algo que já produzi gosto sempre de testar em pequena escala, para me orientar nas variáveis da receita e perceber o que tenho de ajustar. E claro existem sempre casos onde tenho de testar uma e outra vez até chegar a algo que esteja confiante para produzir para o mercado.
Assim findos estes passos todos e caminho sinuoso feito, chego a uma receita com as especificações e variáveis que acredito produzirem a cerveja ideal para aquele objetivo. E no final disto tudo e cerveja feita, chega mais uma oportunidade e ideia nova e o carrossel começa outra vez!